segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Uma poesia

Só para espelhar uma situação...

A Valsa
(Casimiro de Abreu)

Tu, ontem,
Na dança
Que cansa,
Voavas
Co'as faces
Em rosas
Formosas
De vivo,
Lascivo
Carmim;
Na valsa
Tão falsa,
Corrias,
Fugias,
Ardente,
Contente,
Tranqüila,
Serena,
Sem pena
De mim!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!

Quem dera
Que sintas!...
- Não negues,
Não mintas...
- Eu vi!...

Meu Deus!
Eras bela
Donzela,
Valsando,
Sorrindo,
Fugindo,
Qual silfo
Risonho
Que em sonho
Nos vem!
Mas esse
Sorriso
Tão liso
Que tinhas
Nos lábios
De rosa,
Formosa,
Tu davas,
Mandavas
A quem ?!

Quem dera
Que sintas
As dores
De arnores
Que louco
Senti!

Quem dera
Que sintas!...
- Não negues,
Não mintas,..
- Eu vi!...

Calado,
Sozinho
Mesquinho,
Em zelos
Ardendo,
Eu vi-te
Correndo
Tão falsa
Na valsa
Veloz!
Eu triste
Vi tudo!
Mas mudo
Não tive
Nas galas
Das salas,
Nem falas,
Nem cantos,
Nem prantos,
Nem voz!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
- Não negues
Não mintas...
- Eu vi!

Na valsa
Cansaste;
Ficaste
Prostrada,
Turbada!
Pensavas,
Cismavas,
E estavas
Tão pálida
Então;
Qual pálida
Rosa
Mimosa
No vale
Do vento
Cruento
Batida,
Caída
Sem vida.
No chão!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
- Não negues,
Não mintas...
Eu vi!

domingo, 28 de abril de 2013

Contradição

O que tinha era o medo do que havia.
Tudo tinha, mas o medo possuía
Tinha a casa, o telhado, a agonia
A família, o cercado, todo dia.

Mas o medo com orgulho contendia
Mas o medo mais que tudo escondia
Mas o ódio era o medo do que havia;
Mas na via do que havia, era incerto
Do que tinha, mas não tinha do jeito certo
Mas os olhos tinha cerrados e ocultos
E, sozinho, mais medo de tantos vultos.

Mas a vida era, sozinha, contradição
Do desejo que tinha no coração
Mas a amava, e amava de paixão
Mas não cria, e vivia na escuridão.

O que tinha era o medo do que havia
Mas o medo era do que ele não via.