O exibicionismo vem se tornando mais comum a cada dia em nossas vidas. Com a Internet sendo cada vez mais utilizada por diferentes camadas sociais parece que a rede potencializou a "necessidade" de exibição de muita gente.
No início, só os e-mails existiam (e não representavam grandes riscos); com o tempo, vieram as redes sociais de vários tipos e, com elas, a possibilidade de se divulgar informações, imagens e vídeos a uma velocidade nunca antes vista.
Assim, por meio de webcams e fotografias, homens, mulheres, crianças e adolescentes encontraram uma forma de chamar a atenção de centenas, milhares, milhões de usuários ao mesmo tempo. Só que alguns indivíduos ultrapassam a linha tênue entre a exibição e a exposição desenfreada.
A terceira edição do "Lingerie Day", movimento lançado no Twitter, causou polêmica. Afinal, para aderir a ele, as mulheres precisavam publicar uma foto só com peças íntimas no microblog. Algumas moças participaram do "Lingerie Day" sem ao menos saber a utilidade e a mensagem que seria passada por meio dele.
Mas por que será que essas pessoas fazem na rede coisas que não fariam normalmente? "O papel da Internet nesse contexto é bem significativo, pois ela possibilita um modelo de encontro que tem muitos benefícios: você não precisa se arrumar, enfrentar trânsito, encontrar espaços na agenda", justifica a psicóloga Cida Rabelo.
Segundo a especialista, a rede fornece aos usuários uma falsa sensação de segurança, já que cada um se encontra atrás da tela de um computador. Só que isso não passa de ilusão. Apesar de permitir que qualquer um exponha e defenda suas ideias e opiniões e de não ter uma legislação própria, a Internet não é uma terra completamente sem lei.
"As pessoas não têm ideia de que podem não só ser vítimas como autoras de crimes cometidos via rede. Colocar fotos íntimas do parceiro sem autorização ou criar comunidades no Orkut ridicularizando outro indivíduo são atos que podem passar de 'brincadeiras inocentes’ a crimes contra a honra e invasão do direito à imagem, protegidos constitucionalmente", alerta a advogada Daniela Bachur. Já existem delegacias especializadas em crimes eletrônicos, como a 4ª Delegacia de Delitos Cometidos por Meios Eletrônicos. "Os casos mais recorrentes são de pedofilia, estelionato e crimes contra a honra".
Navegar na web sem ter consciência disso é o mesmo que dirigir sem conhecer as placas de trânsito: muito arriscado. E o perigo aumenta consideravelmente quando menores de idade têm livre acesso à rede sem a supervisão de um adulto. O caso dos adolescentes do Rio Grande do Sul, que chocou a sociedade em geral, é um bom exemplo de como a falta de acompanhamento dos pais pode lesar a toda a família, sem necessidade.
Além do mais, o que parecia uma brincadeira da garota de 14 anos e do rapaz de 16 era, na verdade, um crime, já que os dois divulgaram na Internet imagens pornográficas envolvendo menores - ainda que no vídeo apareçam eles mesmos trocando carícias íntimas. Agora, os dois serão penalizados de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em frente à webcam, os dois se achavam seguros, mesmo conscientes de que muita gente estava assistindo o que faziam. Mas esqueceram da possibilidade de reproduzir, por exemplo, essas imagens possibilitando seu uso indevidamente.
Daniela ressalta que as pessoas esquecem que quando estão em frente ao computador, navegando na web, tem do outro lado da linha milhares de outras pessoas - e isso gera um contra-senso que dificulta o entendimento do que fazer. "O sentimento é de estar em privacidade, mas funciona como num reality show".
O exibicionismo via web também coloca os mais ingênuos num sério risco de vida, porque dá aos criminosos a oportunidade de encontrar vítimas rapidamente, como observa Daniela. "A quantidade de informações pessoais que são colocadas na rede voluntariamente pelos internautas é a grande vilã, já que tal exposição é que facilita o cometimento dos crimes que ocorrem fora da rede. Angariar informações e escolher a vítima, hoje, se dá em um clic".
Portanto, pais e responsáveis devem se informar e orientar os filhos a respeito dos perigos da Internet. E, o mais importante, precisam sim fiscalizar os sites e conteúdos vistos por seus pequenos, para verificar que riscos eles oferecem.
E, para os adultos internautas que adoram se exibir na web, vale tomar cuidado com o que tornam público. Cida dá dicas valiosas para aprender a não se expor demais na Internet. Em redes sociais, adicione quem você conhece e fale com pessoas indicadas. Tenha clareza dos riscos que corre e conheça a facilidade que existe em criar fantasias e mentiras no mundo virtual.
Também é útil conhecer melhor a natureza humana para saber que todos temos tristezas, alegrias, dualidades. Não vale a pena se expor só porque um amigo também o faz ou para mostrar que é mais bonita, sensual ou popular que alguém. Competir desta maneira com os outros, seja na rede ou não, só passa uma mensagem de insegurança.
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