quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Tempo que não volta



Lembro de quando fiquei mocinha. Foi um trauma pra mim, que na época tinha 11 anos. Eu já tinha lido a respeito, era bem informada, mas foi ruim mesmo assim. E me fez mudar de uma hora pra outra, tive que crescer antes do que minha mente pedia.

Depois, percebi que a cada dia os pequenos são obrigados a crescer mais rápido. Algumas roupas de hoje sugerem que as crianças são "mini adultos". Os brinquedos são parecidos com trabalho, as menininhas adoram uma maquiagem e salto alto... Claro que, na hora de brincar, vale sim imitar a mãe - e é muito divertido! O problema é que muitas garotinhas querem sair com roupas de adulto e se comportam como moças.

O mal disso tudo? Não precisa ser psicólogo pra saber que uma infância perdida não pode ser recuperada. Uma vez que alguém perde aquela inocência, aquela essência infantil, pronto. Daí, quando essa pessoa se torna adolescente, ou mesmo adulta, tende a querer reviver coisas de criança e acaba tendo atitudes imaturas para sua idade.

Como já dizia Provérbios 3: "Há tempo para todas as coisas debaixo dos céus". Bom é viver cada etapa com intensidade. Acho que essa é uma lição valiosa para ensinarmos às crianças de hoje!

Matéria de hoje: Lidando com um filho que tem trabalho de adulto

É comum que pais e mães vivam incentivando dons de seus filhos. Mesmo quando os pequenos dançam desengonçados, escrevem uma frase bobinha ou fazem desenhos estranhos - e até incompreensíveis -, não tem jeito: os adultos os enchem de elogios...

Agora, e quando a criança ou adolescente tem mesmo um dom? Quando ele divulga seu trabalho e acaba recebendo propostas e contratos? O que os pais fazem quando têm um verdadeiro prodígio dentro de casa?



Mário e Sueli estão se saindo bem nessa situação.

Pais de João Montanaro, que aos 14 anos já é cartunista e produz charges para o jornal "Folha de S. Paulo" e para a revista "Mad" e lançou recentemente seu primeiro livro, "Cócegas no Raciocínio" (Garimpo Editorial, 2010), os dois levam a situação com bastante naturalidade.

"Lido normalmente com o João. Como escolheu desenhar sobre política, claro que ele tem uma conversa bem diferente daquela dos garotos de 14 anos, às vezes é muito maduro", conta o pai. Mário tem sua parcela de "culpa" pela carreira precoce do filho. Afinal, os primeiros contatos do adolescente com quadrinhos aconteceram graças a ele. Mais tarde, o garoto começou a buscar referências, observar a produção de cartunistas famosos como Ziraldo, Angeli e Laerte, e tentar copiá-los até achar seu próprio estilo.

"Divulguei meu trabalho na maior ‘cara de pau’", brinca João. A internet ajudou bastante nesse processo. "Mandava e-mails para meus contatos e ia achando outros. Enviava meus desenhos. Algumas pessoas respondiam, e outras não", lembra. Aos poucos, aprimorou seus quadrinhos e hoje suas charges podem ser vistas todos os sábados na página 2 da Folha, por exemplo.
Mas se engana quem pensa que João não faz coisas de adolescente. Ele vai à escola, joga vídeo game e futebol com os amigos, como qualquer outro garoto de sua idade. Mesmo depois de contratado pelas publicações, sua rotina continua quase a mesma - só ficou mais "puxada" às sextas-feiras, dia da entrega da charge que será publicada no sábado. "E em semana de prova, claro".

"O trabalho que ele faz não atrapalha suas atividades normais, e ele concilia direitinho com a escola", garante Sueli que, como toda boa mãe, faz questão de ajudar a organizar as atividades do filho em casa, como os horários em que ele precisa acordar. Isso não é tão difícil, porque o garoto é mesmo precoce para algumas coisas. Desde pequeno, já conversava com pessoas bem mais velhas com naturalidade, e pelo jeito, é mais responsável que muito marmanjo por aí. "Acho que os prazos me ajudam a organizar tudo, gosto de ter dia certo para entregar um trabalho". É o pai quem analisa essa precocidade do filho. "Temos outro filho, o Rafa, que é gêmeo do João. Os dois tem 14 mas, às vezes, o João tem 30, gosta dos Beattles. A precocidade dele me apavora um pouco".

A responsabilidade também é importante na hora de João administrar o dinheiro que recebe. Ele até admite comprar alguns mimos, porém apenas quando sobra dinheiro. "Compro material com a maior parte do salário. E tomo cuidado para não gastar tudo assim que recebo".

Embora estejam lidando bem com essa nova etapa na vida do filho - e da família, por consequência -, os pais, lógico, têm suas preocupações. A principal é manter o adolescente com os pés no chão. "Meu filho adora desenhar, então tudo está sendo diversão para ele. Mas fazemos o máximo para orientá-lo sobre o certo e o errado, pois hoje ele é um formador de opinião", fala Sueli.

Mário se orgulha de ter um filho bem informado, e revela que ele e a esposa buscam se informar também. "Procuramos oferecer bons conteúdos para ele, para que ele passe mensagens bem embasadas para seus leitores". O pai do "cartunista prodígio" acompanha a carreira do garoto bem de perto e se esforça para organizar sua agenda e levar João a entrevistas, eventos e até gravações - que estão se tornando constantes na vida do adolescente.

Quando perguntados sobre o porquê de apoiarem o trabalho do filho, os pais são objetivos: desenhar faz João feliz. "Claro que a gente sempre fica de olho nele para ver se ele continua feliz com o trabalho, se está cansado disso e se tem os resultados que espera", diz Mário. "Mas não posso deixar de apoiar algo que faz meu filho feliz".

Por Priscilla Nery (MBPress)

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