quinta-feira, 21 de agosto de 2008

O sempre e as árvores

Todo dia eu andava pela mesma rua, com as mesmas árvores...
Eu olhava pra dentro de mim, e não via nada. Ninguém via nada. Estava tudo sempre igual, sempre distante. Os olhares da janela eram tão longínquos que eu sempre passava despercebida... sempre.
Em cada momento sozinha eu me perguntava o porquê de tudo aquilo. Por que as coisas não mudavam de um dia para outro? Por que continuava tudo na mesma? Por que ninguém me via, nem eu mesma?
As árvores da rua me irritavam: sempre paradas, sem nenhum fruto ou flor... as folhas nem caiam no inverno! Elas refletiam talvez minha condição e minha vida.
Sim, as árvores eram tão profundas com aquela minha superficialidade que me assustavam às vezes, me comoviam, vez ou outra eu até chegava a chorar. Se eu fosse uma delas, creio que não haveria razão para sondar tanto assim minha monótona existência. Mas... até elas precisam se multiplicar, dar fruto, sei lá... crescer, vencer as dificuldades, os bichos que desejam destruí-las, as terras estéreis, tanta oposição!
Passei então a olhar as árvores com uma certa dose de pena.
Elas sequer podiam se locomover... e eu podia. Talvez algo valesse a pena na minha vida, até naquela caminhada repetitiva.
No dia seguinte a tantas reflexões, decidi voltar por outra rua. Mas senti falta árvores. Tinham outras, mas não era a mesma coisa. Acho que faltou intimidade.
No outro dia, eu precisava voltar pelo caminho certo. Olhei as árvores... olhei lá dentro... e vi uma janela aberta. Ali havia uma pessoa me observando! Alguém!
Nunca mais eu esqueci as árvores.