É comum que pais e mães vivam incentivando dons de seus filhos. Mesmo quando os pequenos dançam desengonçados, escrevem uma frase bobinha ou fazem desenhos estranhos - e até incompreensíveis -, não tem jeito: os adultos os enchem de elogios...
Agora, e quando a criança ou adolescente tem mesmo um dom? Quando ele divulga seu trabalho e acaba recebendo propostas e contratos? O que os pais fazem quando têm um verdadeiro prodígio dentro de casa?
Mário e Sueli estão se saindo bem nessa situação.
Pais de João Montanaro, que aos 14 anos já é cartunista e produz charges para o jornal "Folha de S. Paulo" e para a revista "Mad" e lançou recentemente seu primeiro livro, "Cócegas no Raciocínio" (Garimpo Editorial, 2010), os dois levam a situação com bastante naturalidade.
"Lido normalmente com o João. Como escolheu desenhar sobre política, claro que ele tem uma conversa bem diferente daquela dos garotos de 14 anos, às vezes é muito maduro", conta o pai. Mário tem sua parcela de "culpa" pela carreira precoce do filho. Afinal, os primeiros contatos do adolescente com quadrinhos aconteceram graças a ele. Mais tarde, o garoto começou a buscar referências, observar a produção de cartunistas famosos como Ziraldo, Angeli e Laerte, e tentar copiá-los até achar seu próprio estilo.
"Divulguei meu trabalho na maior ‘cara de pau’", brinca João. A internet ajudou bastante nesse processo. "Mandava e-mails para meus contatos e ia achando outros. Enviava meus desenhos. Algumas pessoas respondiam, e outras não", lembra. Aos poucos, aprimorou seus quadrinhos e hoje suas charges podem ser vistas todos os sábados na página 2 da Folha, por exemplo.
Mas se engana quem pensa que João não faz coisas de adolescente. Ele vai à escola, joga vídeo game e futebol com os amigos, como qualquer outro garoto de sua idade. Mesmo depois de contratado pelas publicações, sua rotina continua quase a mesma - só ficou mais "puxada" às sextas-feiras, dia da entrega da charge que será publicada no sábado. "E em semana de prova, claro".
"O trabalho que ele faz não atrapalha suas atividades normais, e ele concilia direitinho com a escola", garante Sueli que, como toda boa mãe, faz questão de ajudar a organizar as atividades do filho em casa, como os horários em que ele precisa acordar. Isso não é tão difícil, porque o garoto é mesmo precoce para algumas coisas. Desde pequeno, já conversava com pessoas bem mais velhas com naturalidade, e pelo jeito, é mais responsável que muito marmanjo por aí. "Acho que os prazos me ajudam a organizar tudo, gosto de ter dia certo para entregar um trabalho". É o pai quem analisa essa precocidade do filho. "Temos outro filho, o Rafa, que é gêmeo do João. Os dois tem 14 mas, às vezes, o João tem 30, gosta dos Beattles. A precocidade dele me apavora um pouco".
A responsabilidade também é importante na hora de João administrar o dinheiro que recebe. Ele até admite comprar alguns mimos, porém apenas quando sobra dinheiro. "Compro material com a maior parte do salário. E tomo cuidado para não gastar tudo assim que recebo".
Embora estejam lidando bem com essa nova etapa na vida do filho - e da família, por consequência -, os pais, lógico, têm suas preocupações. A principal é manter o adolescente com os pés no chão. "Meu filho adora desenhar, então tudo está sendo diversão para ele. Mas fazemos o máximo para orientá-lo sobre o certo e o errado, pois hoje ele é um formador de opinião", fala Sueli.
Mário se orgulha de ter um filho bem informado, e revela que ele e a esposa buscam se informar também. "Procuramos oferecer bons conteúdos para ele, para que ele passe mensagens bem embasadas para seus leitores". O pai do "cartunista prodígio" acompanha a carreira do garoto bem de perto e se esforça para organizar sua agenda e levar João a entrevistas, eventos e até gravações - que estão se tornando constantes na vida do adolescente.
Quando perguntados sobre o porquê de apoiarem o trabalho do filho, os pais são objetivos: desenhar faz João feliz. "Claro que a gente sempre fica de olho nele para ver se ele continua feliz com o trabalho, se está cansado disso e se tem os resultados que espera", diz Mário. "Mas não posso deixar de apoiar algo que faz meu filho feliz".
Por Priscilla Nery (MBPress)
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