Ao contrário do que muita gente pensa, a "culpa" por não conseguir engravidar nem sempre é da mulher. É comum que os homens sejam responsáveis ou contribuam para a infertilidade conjugal. "Aproximadamente em 35% dos casais inférteis, a causa é de etiologia masculina isoladamente e, em 50 % dos casais estéreis, as causas masculinas estão presentes", afirma Oilton Liberati Vieira, especialista em reprodução humana assistida e diretor médico da Clínica Reproduction da cidade de Presidente Prudente (SP).
Há vários fatores que causam a infertilidade masculina: varicocele (que são veias dilatadas nos testículos); infecções genitais (na próstata, vesículas seminais, epidídimo e testículos); alterações hormonais (como o hipogonadismo); doenças congênitas (criptorquidia); doenças genéticas (microdeleções do cromossomo Y, síndrome de Kleinifelter, etc); fatores ambientais (poluição, estresse, radiações ionizantes, tabagismo); além de causas desconhecidas.
Um casal pode desconfiar de infertilidade depois de um ano sem conseguir engravidar, desde que tenha mantido relações sexuais frequentemente (duas a três vezes por semana) e, claro, sem fazer uso de nenhum método contraceptivo.
Nesse caso, devem sim procurar ajuda de um especialista. O primeiro passo será a chamada história clínica ou anamnese, que serve para identificar alguma provável causa para a infertilidade. Depois, é realizado o exame clínico, que inclui o exame da região genital e de duas ou três análises seminais, com diferença de tempo de aproximadamente 15 e 60 dias uma da outra. "Desta forma, temos uma ideia do ‘padrão’ seminal do paciente. Estas análises devem preferencialmente ser realizadas em centros especializados de reprodução humana", afirma Oilton.
O urologista explica que o tratamento depende da razão para a infertilidade no homem. O médico irá chegar a uma conclusão após avaliar a história clínica e o exame físico do paciente. Assim, o profissional estará capacitado para indicar a melhor solução: cirurgia em casos de varicocele, antibióticos para as infecções, aconselhamento sobre os fatores ambientais, etc. "Porém, nos casos de irreversibilidade ou falha nos tratamentos mais simples, devemos recorrer à inseminação artificial e à fertilização in vitro".
Mas não é certo responsabilizar somente o homem pela esterilidade logo de cara. É importante que a parceira também seja submetida aos exames, ainda que ele sofra de algum problema grave. Isso porque em um terço dos casos existe um fator feminino associado ao masculino - e que interfere na fertilidade dos dois.
Porém, as razões para um casal não conseguir ter filhos vão além de fatores físicos. Se o psicológico não estiver saudável, pode alterar o ciclo hormonal na mulher, impedindo a ovulação e o preparo do endométrio, ou desestimular a espermatogênese (produção de espermatozóides) no homem. O estresse também pode prejudicar essa produção.
Quando o casal quer muito um filho, a própria ansiedade acaba sendo um vilão. Isso para quem resolve fazer sexo com o objetivo único de gerar um bebê, usando até um calendário e a data das últimas menstruações. Aí, a coisa complica. "A relação sexual torna-se obrigação com hora e data definida, acabando com a vida sexual e, às vezes, com a vida conjugal destes casais", alerta o especialista.
Graças a essa pressão, que a cada dia se torna mais comum, surgem outros impedimentos para a tão desejada gravidez, como aponta Oilton. "Aproximadamente 4% das causas de infertilidade masculina são por disfunção sexual erétil (impotência sexual) e distúrbios ejaculatórios (ejaculação precoce, retardada e ausência de ejaculação)". Portanto, talvez a psicoterapia ou a terapia de casais seja uma boa ideia em alguns casos.
De qualquer forma, o apoio da família - e da parceira, em especial - é indispensável e pode ajudar bastante. Afinal, um casal deve compartilhar momentos bons e ruins. "A infertilidade mesmo quando for exclusivamente pelo fator masculino, deve ser encarada como problema conjugal", recomenda o médico.
Para que o tratamento tenha o resultado esperado, é necessário deixar os preconceitos e tabus de lado, como diz Oilton: "É muito importante salientar que infertilidade não significa diminuição ou ausência de virilidade".
Por Priscilla Nery (MBPress)
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